sábado, 9 de janeiro de 2016

João dos Bairros e o Banho do Povo

                                                                       Esteje demitido!

As eleições municipais já são pra esse ano e não e de se estranhar que já haja entrevista de pré-candidatos por aí na internet. O que enviaram em um grupo de liberalismo clássico ou anarcocapitalismo (não lembro mais qual grupo era) é sobre o João Dória, um empresário que já apresentou O Aprendiz e que hoje apresenta um programa nas madrugas da Band chamado Show Business, onde convida vários empresários de sucesso para falarem sobre negócios.
Obviamente uma figura assim não teria a menor chance de ganhar uma eleição em um estado cheio de favelas e outros bairros não-nobres onde a população não simpatizará com um engomadinho com o discurso cheio de clichês empresariais que fazem alguém sensato bocejar uma hora ou outra por causa da repetição do raciocínio; mas o homem não é burro e sabe que vai precisar de um nome mais do povão se quiser fazer sucesso nas classes mais baixas que, inevitavelmente, é quem vão decidir a eleição - e por sorte, né; seria o fim do mundo uma eleição decidida por uma classe média macartista. João já é bem do povão, então ele decidiu colocar um "dos Bairros" pra tentar conquistar corações e mentes dos menos favorecidos. Ao menos, parece ser um plano melhor do que seu concorrente nas eleições internas do partido, que nem visibilidade direito têm.

Outra coisa interessante de se comentar é que ele não pretende esconder o seu lado engomadinho, mas tentar ganhar eleitor com isso. Tentará usar a máxima liberal do sucesso pelo mérito para ver se consegue fazer com que sua imagem ganhe simpatia entre os menos afortunados, ao invés de tentar dizer que não gosta de caviar e prefere um churrasquinho de gato. Pode até dar certo. De uns tempos pra cá houve um "boom" de empreendedorismo entre os que foram atingidos pela crise e esse tema é recorrente em jornais e programas das principais emissoras, então até que essa estratégia pode ser que dê certo.

Claro que essa matéria não teria parado num grupo liberal se não tivesse alguma pauta liberal no meio. O cara defende o estado mínimo e tá querendo vender algumas coisas não relacionada às funções básicas do estado, como o Pacaembu (estádio), Interlagos (autódromo) e o Anhembi. Acredito que essa decisão dele seja mais ideológica do que prática, já que de um jeito ou de outro só muda a arrecadação a longo prazo e o dinheiro que ele terá a sua disposição a curto prazo para conduzir a cidade na sua gestão. Se municipal, SP ganha com eventos que ali acontecem; se privado, vai ganhar com impostos. No longo prazo, SP sai perdendo, já que uma administração privada não parece que será significativamente superior a que há hoje.

Alais, a parte realmente interessante pra se comentar disso tudo é a privatização. Ele já está em um partido que não possui muita simpatia de boa parte dos paulistanos - não por ódio, mas por falta de afinidade -, e ainda por cima está pensando em privatizar coisas que hoje estão em posse do município. Você não precisa ser muito sagaz pra saber que por aqui as pessoa não veem com bons olhos a questão da privatização (embora o estado de São Paulo seja o estado com o maior número de rodovias privadas...), e provavelmente ele irá sofrer muito com isso, pois seus adversários não perderão a oportunidade de atacá-lo por sua postura de estado mínimo, acendendo a chama da anti-privatização que habita os corações do brasileiro comum. Pra ser sincero, não me surpreendo se ele tiver que deixar isso de lado e tentar no segundo turno.

E falando em segundo turno, o homem disse que não haverá, pois tudo que tem que ser feito será feito no primeiro e único mandado. Quatros que anos que valerão por oito (sic). Aqui a gente vê a falta de tato e o excesso de confiança, ou pura prepotência, você escolhe. Talvez seja natural que, por ser um empresário bem sucedido que confia demasiadamente no próprio taco. Ou pode ser simplesmente ele tocando na admiração que parte do eleitorado tem pelos empresários e sua figura de resolvedor de problemas, sem os embrolations que os políticos fazem. Guardem minhas palavras: muita gente cairá nesse conto de fadas de terno e gravata.

Por fim, ciclovias e redução da velocidade nas marginais. Já era de se imaginar que ele não criticaria as ciclofaixas, pois, por causa da necessidade de alternativas para uma vida menos danosa ao meio ambiente, não concordar com isso é colocar uma corda no pescoço. Acredito que ele realmente goste desse modelo alternativo de transporte. Ele comentou sobre ciclovias onde não há ciclistas, e aí onde eu posso discordar: de fato, se esqueceram de colocar mais ciclofaixas e ciclovias nos bairros menos favorecidos, que é onde há o maior número de pessoas que optam por esse tipo de transporte. Entretanto, colocar ciclofaixa em lugar onde não há muitos ciclistas não é um problema. Quanto mais, melhor.

Já redução de velocidade... isso tocou mesmo os corações dos paulistanos, hein. Ele falou que a primeira coisa que ele irá fazer quando eleito é voltar com as velocidades anteriores, justificando a queda dos números de acidentes a desistência de pessoas de transitar nas marginais. Até que me tragam prova do contrário, acredito que isso é pura racionalização esfarrapada para ser contra uma medida adotada em várias megalópoles do mundo, e que, além de reduzir os números de acidentes, aumentam o número de veículos que entram e saem das marginais. Essa relação do paulistano com o carro não é de hoje, e foi a culpada por canalizarem rios que posteriormente inundariam as avenidas criadas em cima desses mesmo rios canalizados. Essa paixão por carro foi o que condenou São Paulo a um futuro perpétuo de enchentes e é o que está condenando São Paulo a andar pra trás.

Deus nos livre e guarde dessa relação doentia e desgastante!