sábado, 16 de maio de 2015

Não, o DNA dos homens com quem você transa não ficará no seu sangue


Olhando o título, você pode achar que essa afirmação é meio sem noção, mas este texto é uma resposta a uma desinformação em relação a um estudo científico. Bom, vou começar do início.

O título em questão foi baseado no título de uma publicação do site oficial da Universal. O título da matéria diz "Atenção, mulher: o DNA de cada homem com quem você faz sexo pode ficar no seu sangue, e eu encontrei ela vagando por aí em um grupo no Facebook. Caso já não tenha feito, leia isso, pois vai ser importante.



Então, ao ver isso, eu fiz um primeiro comentário indignado, afinal, dá pra ver de cara que eles exageraram em muitas coisas. Foi rejeitado, e foi aí que eu tentei procurar algum site com a informação original do negócio. Graças ao algorítimo do Facebook, já tinha aparecido um, e no tal grupo que eu encontrei a notícia uma pessoa informou outro.

Como eu havia prevido, eles exageraram em algumas coisas e colocaram coisas que o estudo não diz. Pra poderem entender tudo, irei explicar como tudo aconteceu.

Os pesquisadores pegaram 120 voluntárias, entre saudáveis e com Artrite Reumatoide, que não ficaram grávidas de meninos e as dividiram em quatro grupos: grupo A, das que tiveram meninas; grupo B, das que tiveram abortos espontâneos; grupo C, das que tiveram aborto induzido; e grupo D, das que não ficaram grávidas. Ao examinar, foi observado que a presença de micromerismo (nome esse dado por causa da criatura mitológica grega, Quimera) nos grupos de saudáveis e com AR foi ligeiramente diferente, e que a presença nas candidatas era, de acordo com a ordem que disse antes: 8%, 22%, 57% e 10%.

Aqui a gente já percebe a primeira mentira da Universal. Na matéria diz que 22% das mulheres contrariam micromerismos das relações sexuais, quando esse número corresponde às que tiveram aborto espontâneo.

Continuando com a descrição da pesquisa... a conclusão dos pesquisadores é que, além de adquirirem micromerismos dos fetos e bebês, que já era algo sabido pela ciência, também existem outras formas de se adquirir isso, embora com menos frequência. Existe as possibilidades de eles serem adquiridos através de irmãos meninos mais velhos, gêmeos homens absorvidos, abortos espontâneos não reconhecidos e, por fim, relação sexual. Mas uma coisa que o estudo frisa é que é necessário mais estudos sobre isso para confirmar cada uma dessas hipóteses.

Pois é, existe a possibilidade. Se formos dividir igualmente, isso daria míseros 2,5% de chance para cada alternativa. Pouquinho, não acha?

Pois bem, eu fiz um comentário bem mais polido com esses dados e um link de um periódico científico para responder ao Henrique Costa que, apesar de aparentar ser cristão, é uma pessoa que não vai acreditando cegamente no site e quer ver tudo direitinho. Eu tentei enviar esses dados e o link do periódico para ele, mas o site da Universal simplesmente recusou - já que pra enviar qualquer comentário pra lá é necessário a aprovação dos moderadores, uma medida de segurança para manter a caixa de comentário um ambiente saudável. Isso só aconteceu porque meu comentário continha uma clara intenção de descordar do site, tanto é que eles deixaram passar o comentário do Bruno Domingues Beyruth, que passa informações mais detalhadas, mas também comete erros que a Universal cometeu.

Preste atenção neste trecho:
"Os pesquisadores, então, concluíram que os genes foram transmitidos durante o sexo.
É isso mesmo, além do envolvimento emocional em uma relação sexual, você tem grandes chances de “herdar” fisicamente o DNA de todos os parceiros com que já dormiu um dia, em seu sangue, por toda a vida. E o que é pior, ele poderá ser transmitido aos seus filhos."
Acontece que em nenhum momento da publicação original os pesquisadores dizem isso! Além das estimativas serem de que a chance que você contraia micromerismo de parceiros sexuais seja que 2,5%, em nenhum momento eles dizem que ele fará parte de seu DNA. E o que é pior, em nenhum momento os pesquisadores dizem que ele fará parte do DNA do seu bebê. Isso quem inventou foi a autora da matéria.

Aliais, parece que o conhecimento científico básico não é presente tanto na autora da matéria como no site que o Bruno Domingues compartilhou, pois só existe um tipo de célula que dura até a morte do indivíduo e ela não se duplicam! Como a mulher vai contrair, através da relação sexual, células que não podem ser repostas? É claro que, se ela contrair, serão células que possuem tempo de vida mais curto, as células lábeis. Mas não é de estranhar que o site que o Bruno compartilhou também tenha caído nesse erro, pois nesse site há até mesmo matérias sobre esqueletos gigantes.

Depois, quando você continua lendo a matéria, você percebe qual o motivo de tanta destorção da verdade e mentiras. Eles querem somente provar que eles estavam certos quando decidiram seguir aquela regra tacanha de que sexo é só depois do casamento e somente com seu cônjuge, além da promoção do programa da filha do Edir Macedo. O conhecimento da biologia humana fica em segundo plano, pois o que interessa são os dogmas estabelecidos antes da Idade Média e os negócios de uma herdeira do império que a Universal virou.

A minha dica é que não confie de cara em matérias sobre ciência que são postadas em sites como a Universal, pois não é a primeira vez que vejo gente distorcendo publicações científicas para corroborar dogmas ou passar lições de moral. Google tá aí pra evitar cair em lorotas como essa.
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Periódico Médico com informações originais: PubMed: Male microchimerism in women without sons: quantitative assessment and correlation with pregnancy history

10 comentários:

  1. Olá, boa tarde. Olha eu também concordo que devemos filtrar as informações que nos são dispostas na internet e, principalmente, quando apresentadas em Facebook e blogs. No entanto, opino contrariamente no que tange à regra tacanha da idade média. Relação sexual somente com o cônjuge é disciplina bíblica e não de um determinado período histórico. Tampouco de um dogma ou pertencente a alguma corrente religiosa. Dessa forma, entendo sua posição quanto aos exageros e talvez omissões de alguns ao passarem determinadas ideias, mas, no meu ponto de vista, também acho exagero colocar uma disciplina tão importante quanto à preservação pura do matrimônio nos mesmos patamares que a falta de bom senso de alguns blogs ou sensacionalistas.
    Obs.: minha opinião considera a bíblia como livro-regra da vida humana, portanto, desconsiderei o fato de que você possa ter um conceito contrário sobre esse livro sagrado. Assim, caso você não tenha qualquer apreço pelas escrituras, o que apresentei aqui será de utilidade apenas para os que, como eu, entendam que há um livro que dita as normas para a nossa boa convivência. Ótima semana!!!!
    Tiago

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    1. Você só existe porque nossa espécie transou MUITO e com muitos parceiros, é biológico e bíblico.

      Sexo na bíblia é reproduzido várias vezes em parceiros consanguíneos (vulgo incesto) e SIM com variados parceiros, pois os homens tinham mais de uma esposa e viúvas se recasavam com cunhado, etc. Basta sair da conchinha dita "cristã" e ler seu livro sagrado que você aparentemente desconhece.

      Abraços

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    2. Tiago, suponho que vc tenha casado ou vá casar viregem, não é????

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  2. Tiago, a Bíblia não é o livro-regra da vida humana: pode ser da sua vida, já que é cristão. Nem todo ser humano na terra é cristão: temos o budismo e o islamismo entre as religiões com maior número de adeptos no mundo, havendo ainda os judeus, os hinduístas, etc. Há, inclusive, países com maioria de ateus (por sinal, são os melhores do mundo para ser viver, pois são de altíssimo Índice de Desenvolvimento Humano-IDH). Logo, o livro que citas pode ser referência para sua vida, não de todos os seres humanos, pois eles podem, inclusive pelo livre arbítrio que sua religião mesmo prega, optar por não seguir um livro só, ou usar livros apenas como acréscimo de conhecimento, fazer-lhes as devidas críticas e não seguir livro nenhum em específico, guiando-se pela própria consciência, sem mestres, pastores ou chefes.

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  3. Sua conta está meio equivocada, a chance de micromerismo publicada na "The American Journal of Medicine" nas 120 mulheres é de 22% (VINTE E DOIS POR CENTO).

    Você está diminuindo esse dado ao segundo dado oferecido onde destes 22% separam os grupos de mulheres por categoria para descobrir qual a porcentagem de cada uma com relação ao seu grupo de origem.

    Logo a chance real NÃO é 2,5% das mulheres mas sim 22%. Basta um pouco de atenção na leitura e básicos conhecimentos matemáticos para perceber que assim como a matéria reproduzida a partir dessa original foi exagerada, você em sua crítica cometeu o mesmo erro.

    "Women were categorized into 4 groups according to pregnancy history. Group A had only daughters (n = 26), Group B had spontaneous abortions (n = 23), Group C had induced abortions (n = 23), and Group D were nulligravid (n = 48). Male microchimerism prevalence was significantly greater in Group C than other groups (8%, 22%, 57%, 10%, respectively)."

    Fonte: http://www.amjmed.com/article/S0002-9343(05)00270-6/fulltext

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    1. "Male microchimerism was found in 21% of women overall. Healthy women and women with RA did not significantly differ (24% vs 18%)."

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    2. O que extrapolando corresponde ao seu adjetivo de "míseras" 23.100.000 de mulheres no mundo... Bem pouquinho, neah!? :)

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    3. Ah sim, eu realmente cometi alguns erros nessa postagem de dois anos atrás. Acho que na realidade, assim como a universal, eu estava me importando muito mais em confirmar minhas visões de mundo do que me interessar pelas coisas que me envolvia. Dois idiotas, of course. Mas eu me dou um desconto por estar passando por um fase delicada da vida.

      Mas então... acho que na época associei o número da universal com o número de abortos espontâneos porque a porcentagem de microquimerismo em mulheres do grupo analisado é de 21%. Inclusive, você também falou 22%, mesmo tendo feito um quote na segunda resposta onde é dito 21% :)
      Mas eu realmente negligenciei isso na hora de escrever o artigo.

      E houve um erro de interpretação de sua parte aí: eu tirei o número de 2,5% para relações sexuais com a divisão da porcentagem de mulheres que não engravidaram (10%) pelo número de possibilidades dadas pelos cientistas para a presença de microquimerismo em mulheres, que foram quatro. 10/4 = 2,5. Claro que é um número totalmente hipotético e que possui validade fraca, porque a própria possibilidade de microquimerismo através de relações sexuais ainda é uma possibilidade que precisa ser melhor estudada.

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    4. E confesso que sua resposta crítica é que me fez lembrar que esse blog existe. Com certeza não pretendo levar ele de forma profissional ou tentar ganhar renda extra com ele, mas acho que de agora em diante eu vou começar a colocar alguma coisa aqui e ali nele, dá uma melhorada no visual, enfim, deixar ele um pouco mais vivo.

      Eu meio que abandonei ele porque ele não correspondeu minhas expectativas, que era a de criar um grande blog. Mas hoje eu acho que é bom ter um blog de opinião para acontecer coisas como essa, de se discutir um assunto e aprender mais sobre a realidade. Acho que isso já é gratificação mais do que suficiente.

      Por mais que a postagem tenha alguns erros de raciocínio, eu não pretendo apagá-la ou modificá-la, porque é um registro histórico, de certa forma. Eu sempre vou ver essa postagem e me lembrar mais ou menos como eu estava me sentindo e como estava vivendo na hora que escrevi ele. Infelizmente a Universal não pensa assim, e apagou a matéria. Acho que não somente eu que fiz postagens e blogs ou redes sociais denunciando a distorção da Universal, e eles acabaram cedendo a pressão do coro. Mas tem outros sites que copiaram a matéria deles

      http://saranossaterra.com.br/noticias/atencao-mulher-o-dna-de-cada-homem-com-quem-voce-faz-sexo-pode-ficar-no-seu-sangue/

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  4. Eu confesso também que jamais esperaria tamanha humildade daquele que escreveu o texto.
    Boas respostas colega, aliás recomendo-te (como post-blogger) à entrar na comunidade do Medium, hoje em dia está em expansão e em vista do seu novo tom teria prazer em acompanha-lo lá.

    Boa sorte!

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